terça-feira, 7 de outubro de 2014

Surrealismo: 1924-45 (Parte I)

Guillaume Apollinaire, poeta francês, inventou a palavra em 1917. Ele a usou duas vezes no mesmo ano: uma delas com relação à sua peça Les Mamelles de Tirésias (1917), que descreveu como um "drama surréaliste" ; e a outra  chamada Parede (ballet). Apollinaire morreu de gripe espanhola em 1918.
 
Em homenagem a Guillaume Apollinaire, André Breton em seu Primeiro Manifesto (1924), batizou o novo modo de expressão de Surrealismo. O novo movimento associa a criação artística ao automatismo psíquico puro. Dessa associação resultou que as obras criadas nada devem à razão, à moral ou à própria preocupação estética. Portanto, para os surrealistas, a obra de arte não é o resultado de manifestações racionais e lógicas do consciente. Ao contrário, são manifestações absurdas e ilógicas, como as imagens dos sonhos e da escrita "automática" (fluxo de consciência/espontânea).
 
A escrita automática procura buscar o impulso criativo artístico através do acaso e do fluxo de consciência despejado sobre a obra. Procura-se escrever no momento, sem planejamento, de preferência como uma atividade coletiva que vai se completando. Uma pessoa escreve algo num papel e outra completa, mas não de maneira lógica, passando a outra que dá sequência.
 
A ideia era explorar a mente inconsciente no intuito de trazer à tona segredos indecorosos reprimidos em benefício da decência. Uma vez que eles tivessem sido revelados, o plano era pôr a realidade "racional" ao lado dessa versão da "realidade" em tudo e por tudo mais detestável. A subversão - esperava-se - conduziria à desorientação em massa provocada pelo pensamento, palavras e atos antirracionais dos surrealistas.
 
Salvador Dalí
 
 
 
Em A persistência da memória (abaixo)(1931), Dalí cria um mundo irracional totalmente autônomo e convincente - onírico e inerte - que se torna ainda mais intenso graças à dimensão diminuta da tela (24 x 33 centímetros). A obra começa como uma pintura de paisagem habitual que mostra o mar Mediterrâneo e faces de penhasco ao largo da costa noroeste da Espanha, perto da cidade natal do artista. Mas depois uma sombra escura assoma sobre a costa, projetando uma presença ameaçadora como um vírus moral. Um exército de formigas pretas apinha-se sobre a carcaça de um relógio menor, enquanto um outro escorrega sobre uma criatura molenga verdadeiramente grotesca. Esse é Dalí. Ou, pelo menos, uma aproximação do rosto do artista quando visto de perfil. Ele também foi envolvido pela sombra sufocante da morte, que o deixou flácido, sem vida e repugnante enquanto suas vísceras de esvaem pelas narinas.  


Dalí estava fascinado pela Teoria geral da relatividade, de Einstein, publicada em 1920, que descreve como o tempo se curva sob o impacto da gravidade. Para Dalí era lógico perguntar: "Se o próprio tempo se curva, por que não os relógios?". Sua pintura também sugere um tema mais antigo e familiar, a inevitabilidade da morte, pois, embora tenham parado em momentos diferentes, todos os relógios apontam para a hora que se aproxima ; a morte espera cada um de nós individualmente.
 
Sua busca no surrealismo era "sistematizar a confusão e assim ajudar a desacreditar o mundo da realidade" por meio da pintura de "paisagens oníricas". Seu objetivo era fazer "fotografias de sonhos pintadas a mão".

Rapariga de pé à janela, 1925. Salvador Dali.

 
 
 
 
Telefone-Lagosta, 1936. Salvador Dali.
 
Mae West Lips Sofa, 1936-37. Salvador Dali.
 
 
Galateia de Esferas, 1952. Salvador Dali.
 
 
 
 
Natureza-Morta Viva, 1956. Salvador Dali.
 
 
 
 
Suas esculturas eram como colagens tridimensionais. Ele aplicava o conceito de ready-made de Marcel Duchamp combinando e rotulando como arte objetos banais desconexos e levemente modificados. 

Com o compatriota e cineasta de vanguarda Luis Bruñuel, Dalí trabalhou em uma série de projetos que se tornaram os primeiros filmes surrealistas.
 
Cão Andaluz (1929)
Em preto e branco e tem uns 15 minutos, confere aqui:https://www.youtube.com/watch?v=YJCcLbtSD6o
 
A idade do ouro (1930)
 
Na década de 1940, quando morava nos Estados Unidos, Dalí trabalhou ao lado de Alfred Hitchcock no filme Quando fala o coração (1945).
 
 
 



terça-feira, 30 de setembro de 2014

Dadaísmo: 1916-23

A nona hora (1999) é uma das instalações de Maurizio Cattelan. A instalação consta de uma escultura muito realista do papa João Paulo II, agarrando-se desesperadamente à sua cruz processional, esmagado por um meteorito que, aparentemente, entrou pelo telhado espalhando cacos de vidro em um tapete vermelho. O título da obra remete a hora da morte de Cristo na cruz, a nona hora, de acordo com a teologia cristã.



Algumas perguntas sobre a obra:

Por que a obra A nona hora é classificada como arte?

E se ela estivesse em uma vitrine de uma loja, as pessoas a olhariam?

Em 2006 alguém pagou 3 milhões de libras pela obra, e páginas de jornais foram dedicadas à discussão de seus méritos. Assim, o artista se beneficia do status elevado de que os museus e galerias de arte moderna gozam em nossa sociedade. Sim, porque paralelo ao mundo da arte, nós temos o mercado da arte.

Em A nona hora, Cattelan está questionando a crença das pessoas na arte. Catellan ridiculariza o mundo que negocia e as próprias pessoas que o pagam para isso.

O dadaísmo foi um movimento artístico fundado no início do século XX por um grupo de artistas. Este movimento expressou decepções com o fracasso das ciências, da religião e da filosofia existentes até então, pois todos esses conhecimentos se revelaram incapazes de evitar a grande destruição que assolava a Europa. O dadaísmo oferecia uma alternativa baseada na conduta irracional, ilógica e desordenada.

Cabaret Voltaire. Clube noturno criado em 1916, em Zurique, formado por um grupo de jovens artistas e escritores. O objetivo era convidar artistas a comparecer e apresentar números musicais e leituras .
Um dos artistas que se apresentou no cabaré foi Tristan Tzara. Tzara ficou amido de Hugo Ball, idealizador do espaço.

Os dadaístas criaram um movimento anárquico. E o que eles eram contra? Contra o establishment! Contra a sociedade! Contra a religião! Contra a arte!

Só que isso não bastava. Eles precisavam estar inseridos dentro do próprio establishment artístico, do qual eles protestavam.

No dia 14 de julho de 1916, instituiu-se a chegada de um novo movimento por meio de uma leitura pública de um manifesto no Waag Hall, em Zurique.

" O dadaísmo é uma nova tendência na arte. É possível perceber isso pelo fato de que até ontem ninguém sabia coisa alguma sobre ele, e amanhã todos em Zurique estarão falando a seu respeito. A palavra dada vem do dicionário. É o que há de mais simples. Em francês ela significa "cavalinho de pau". Em alemão significa "até logo", em romeno "sem dúvida"...uma palavra internacional. Como podemos alcançar a eterna beatitude? Dizendo dada. Como podemos ficar famosos? Dizendo dada...até ficarmos loucos [e] perdermos a consciência. como podemos nos livrar do jornalismo, dos vermes, de tudo que é bom e direito, bitolado, moralístico, europeizado, debilitado? Dizendo dada." (Hugo Ball)

O absurdismo era uma tendência antirracional que tivera início em Paris na segunda metade do século XX com os poetas simbolistas franceses. Paul Verlaine, Stéphane Mallarmé e Arthur Rimbaud estavam entre os principais poetas do movimento.

A peça de Alfred Jarry, chamada Ubu rei, foi encenada pela primeira vez em dezembro de 1896. A plateia vaiou e todos voltaram para casa infelizes. Mas, o que todos não sabiam, é que Jarry havia criado um drama absurdista, chamado mais tarde de "teatro do absurdo". E o dadaísmo foi o mais intelectual dos movimentos artísticos.

Uma adaptação do Esperando Godot de Samuel Beckett, pode ser visualizada aqui: https://www.youtube.com/watch?v=kTsMYrUU8WQ
 
Outra referência são os romances de Franz Kafka.

A época foi marcada por centenas de homens massacrados. O absurdismo, ou ler três poemas diferentes, ao mesmo tempo, parece tolo. Mas era apenas uma crítica à guerra, onde homens morreram lado a lado. Como disse Hugo Ball: "O que estamos celebrando é ao mesmo tempo uma palhaçada e uma missa de réquiem".

Um novo sistema baseado no acaso deu vida literária na forma de poemas dadaístas. Consistia no recorte de várias palavras de jornais colocadas e um saco. Em seguida eram retiradas ao acaso e coladas. O resultado era uma mensagem dadaísta.

Da mesma maneira, Jean Arp que fez parte do grupo O Cavaleiro Azul, de Kandinsky, fez uma obra dadaísta utilizando papier collé, e nasceu a Colagem com quadrados dispostos segundo as leis do acaso (1916-17). Arp deixou vários fragmentos de papel cair sob um papel-cartão, e colou-os onde pousaram.



Arp viajou pela Europa e conheceu Kurt Schwitters. Basicamente, Schwitters vasculhava lixo em caçambas. Botões, arames, jornais velhos, etc. Revolving (1919) é uma composição com lixo, mas é elegante e sofisticado. O uso do refugo era uma metáfora para um mundo destruído pela guerra que o artista pensava que não podia ser reconstruído.



Merz - Foi o nome dado a uma centena de colagens, feitas pelo artista, com materiais "achados" do lixo.



Merzbau - Casa feita de lixo, cheia de despojos e relíquias. Foi destruída na Segunda Guerra Mundial. As imagens abaixo é da casa reconstruída em 1984.



 
 
 
Artistas como Hannah Hoch, Raoul Hausmann e George Grosz forma pioneiros da fotomontagem, recortando fotografias de revistas para criar colagens absurdas e satíricas. O objetivo dos artistas era criar uma nova realidade, social e artisticamente.
 
Em O crítico de arte (1919), Raoul Hausmann satirizou os jornalistas, cujas críticas de arte podiam ser compradas - ou pelo menos influenciadas - com dinheiro, como mostrado pela colocação de um pedaço de cédula atrás do pescoço do crítico. Ao rabiscar várias linhas pretas sobre os olhos do crítico, simbolicamente obscurecendo sua visão, Hausmann também indica que o julgamento do crítico de arte, como o de qualquer instituição, é deficiente.
 
 
 
A fascinação pelo absurdo encantou dois artistas: Francis Picabia e Marcel Duchamp. Os dois artistas mudaram-se para Nova York em 1915, e acabaram conhecendo Man Ray.
 
Francis Picabia, assim como os outros artistas, realizava obras que questionava as atitudes em relação ao processo artístico, tais como L'Oeil Cocodylate (1921) (abaixo), feita a partir de saudações e assinaturas de amigos.
 
 
 
Duchamp levou a iconoclastia do dadaísmo ao extremo com seus "ready-mades" - objetos funcionais fabricados industrialmente exibidos com pouca ou nenhuma alteração. O mais famoso é Fonte (1917), um mictório deitado sob um pedestal com a assinatura "R.Mutt" - uma fábrica de urinol. O dadaísmo questionava o propósito da arte e seu valor cultural; Duchamp questionava o que constituía a obra de arte e, em uma sociedade materialista, atacava as noções de valor material.
 
 
 
 

Em um de seus passeios por Paris, Marcel Duchamp comprou um cartão postal com uma reprodução de Mona Lisa de Leonardo da Vinci. Desenhou um bigode e um cavanhaque, datou-o e escreveu L.H.O.O.Q.



A pintura da Mona Lisa sempre teve seu status e ícone religioso. Duchamp estava sendo irônico e sua atitude tinha significado, desfigurando uma imagem considerada sagrada.
O francês usava a arte como forma de quebrar barreiras. Sob o pseudônimo de Rrose Sélavy, seu lado travesti transparecia.
O artista e fotógrafo norte-americano Man Ray fotografou Rrose, ou seja, Marcel Duchamp.

Belle Haleine (1921) é uma obra dadaísta carregada de sentido. Duchamp retirou o rótulo original de um frasco de perfume, substituindo por uma foto sua Rrose/Duchamp. Abaixo de Rrose está uma marca inventada, Belle Haleine, que significa "belo alento". Embaixo está a palavra Eau de Voilette que significa "água de véu". E dois lugares são mencionados no rótulo - Nova York e Paris -, cidades  de Rrose/Duchamp.



A obra foi adquirida por Yves Saint Laurent. Depois que este morreu, a obra foi vendida por 11.489.968 dólares.

Repetindo: paralelo ao mundo da arte existe o mercado da arte!

Atualmente, Maurizio Cattelan continua ousado e irreverente. Seu trabalho expressa uma crítica mordaz à autoridade e ao abuso de poder.

O antimovimento artístico converteu-se em surrealismo, em 1924.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Neoplasticismo: 1917-31

Na visão de Piet Mondrian uma nova (neo)abordagem às artes plásticas (plasticismo) - o neoplasticismo - era necessária. Uma nova arte estava nascendo enquanto a guerra devastava a Europa entre 1914 e 1918. Unidade era a palavra-chave e não individualismo. E para isso, era preciso reduzir a arte em seus elementos mais simples: cor, forma, linha e espaço. A paleta de cores estava limitada às três cores primárias (vermelho, azul e amarelo) acrescidas de preto, branco e cinza, e os elementos composicionais se limitavam a linhas horizontais e verticais, bem como superfícies retangulares.
 
"A verdadeira liberdade não é igualdade mútua, mas equivalência mútua. Na arte, formas e cores têm diferentes dimensões e posições, mas são iguais em valor". Piet Mondrian
Composição C (nº III), com vermelho, amarelo e azul (1935), Piet Mondrian.

As linhas verticais e horizontais expressam os opostos da vida: negativo e positivo, bom e mau, claro e escuro, discórdia e harmonia, masculino e feminino, o yin/yang.
 
Os elementos são diferentes, mas têm o mesmo valor.

Nessa sequência de imagens abaixo vemos um nível de abstração cada vez maior do artista Piet Mondrian. Todas têm uma árvore como tema central.
Árvore vermelha (1908), Piet Mondrian.

Árvore cinzenta (1912), Piet Mondrian.


Macieira em flor (1912), Piet Mondrian.


 Quadro nº2/Composição nºVII (1913), Piet Mondrian.

 

 A ideia de unir o universal e o individual, a igualdade dos elementos e a unificação de externo e interno são todas extraídas da teosofia. Como podemos ver na imagem abaixo:
Composição nº VI (1914), Piet Mondrian.


A mesma estética abstrata foi aplicada em todas as formas de artes visuais, da arquitetura ao design.
 

Piet Mondrian conheceu um pintor, escritor, tipógrafo, designer e arquiteto chamado Theo van Doesburg. Em 1917 fundaram uma revista intitulada de De Stijl (O Estilo), também nome do grupo. De Stijl, como descreve Mondrian, captaria "a pura criação do espírito humano...expressa na forma de relações estéticas puras manifestadas em forma abstrata".

Influenciado pela arquitetura do norte-americano Frank Lloyd Wright e o trabalho do designer escocês Charles Rennie Mackintosh e sua famosa Cadeira com encosto de escada (1903). Rietveld criou Poltrona (1918).
Cadeira com encosto de escada (1903), Mackintosh.


Rietveld fez uma outra versão da cadeira, cinco anos depois. Muito semelhante a uma pintura de Mondrian.


Poltona (1918), Gerrit Rietveld.


Rietveld também projetou uma casa baseada nos princípios do De Stijl. A Casa Schröder (1924) em Utrecht, na Holanda foi construída para a Sra. Truss Schröder. Ela queria uma casa em que o interior estivesse ligado com o exterior ; uma casa que não fosse dividida, mas em que as áreas se inter-relacionassem. É uma verdadeira pintura do Mondrian.




Em 1965 o estilista francês Yves Saint Laurent produziu um vestido tubinho de lã sem mangas  com cores primárias e linhas pretas.



Mondrian queria derrotar a "supremacia do individual". Seguindo a filosofia do menos é mais. Abaixo, objetos à maneira de Mondrian:




Mondrian saiu do grupo De Stijl em 1923, pois ele achou que Van Doesburg não obedecia aos princípios do neoplasticismo. Van Doesburg começou a incluir linhas diagonais em suas obras.

Contracomposição de dissonâncias, XVI (1925), Theo Van Doesburg.


O grupo De Stijl tinha a intenção de remover toda e qualquer mística da arte e a tornar cotidiana.  Criar uma sociedade na qual o interior de uma casa, por exemplo, se harmonizasse com o exterior.  Seguindo esse preceito, muitas peças de Rietveld continuam contemporâneas. Já viram por aí?
Zig Zag Chair (1934), Rietveld.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A fotografia como arte

A fotografia foi aceita como forma de arte pela primeira vez no início do século XX. O termo "pictorialismo" surgiu para descrever fotografias que simulavam o estilo das pinturas e que eram manipuladas pelo uso de foco brando e tons sépia, por exemplo. Fotógrafos americanos e europeus criaram sociedades para exibir suas obras e divulgar a fotografia como uma forma de arte que retratava a verdade e empregava o naturalismo. Um desses grupos foi o Camera Club de Nova York. O fotógrafo pioneiro Alfred Stieglitz (1864-1946) fez sua primeira exposição individual nas dependências do clube em 1899. Mas Stieglitz não ficou satisfeito, pois, naquela época, exposições de arte eram julgadas por pintores, e não por fotógrafos, e por isso ele decidiu montar uma exposição que fosse avaliada apenas por fotógrafos. Fundou um grupo chamado Photo-Secession e exibiu suas obras numa exposição no National Arts Club de Nova York em 1902, sendo aclamado pela crítica. Três anos mais tarde, ele inaugurou a Little Galleries do grupo Photo-Secession, junto com o colega fotógrafo Edward Steichen (1879-1973). O lugar ficou conhecido como "291", numa referência a seu número na Quinta Avenida. Numa atitude revolucionária, eles exibiram fotografias ao lado de pinturas e esculturas modernistas. Stieglitz promoveu a obra de Steichen e os dois se tornaram amigos.

Steichen também foi um pioneiro. Ele processou manualmente sua imagem do Edifício Flatiron de Nova York usando camadas de pigmento aplicadas sobre uma solução fotossensível de goma arábica e bicromato de potássio. Essa técnica resultou numa imagem colorida antes mesmo que a fotografia colorida fosse inventada, dando à imagem uma notável aparência de pintura. Tirada ao crepúsculo, a fotografia se assemelha a um quadro de Whistler, ao captar a luz indistinta e a atmosfera de sua localização à margem do rio. A composição faz uma referência às xilogravuras japonesas.


O edifício Flatiron, 1905. Foto: Edward Steichen
 

Stieglitz rompeu limites artísticos com sua fotografia The Steerage, que mostra passageiros de primeira e segunda classes num navio a vapor prestes a zarpar de Nova York para a Alemanha. A combinação do tema urbano, que ilustra a divisão entre ricos e pobres, e as formas angulares marca uma mudança do naturalismo do pictoralismo em direção ao cubismo.


The Steerage, 1907. Alfred Stieglitz.


Depois da Primeira Guerra Mundial, os artistas entraram no espírito prevalecente de celebração da mecanização e da velocidade. Em 1932, um grupo de fotógrafos fundou o f/64, cujo objetivo era desafiar o predomínio do pictorialismo. As fotografias mostravam detalhes sensíveis, belas formas orgânicas e de modo mais realista possível.


Toadstool, 1932. Foto: Edward Weston.


O surgimento de câmeras mais leves, na mesma década (1930), tornou possível que os fotógrafos fossem mais espontâneos, e levou o fotógrafo Henri Cartier-Bresson a registrar o instante em imagens como Atrás da estação St. Lazare.


Atrás da estação St. Lazare, 1932. Foto: Henri Cartier-Bresson.


Cartier-Bresson clicou o jovem pulando sobre uma poça atrás da estação e o capturou em pleno ar. A imagem tem uma agradável simetria, com a figura principal e as grades refletidas na água. O cartaz anunciando acrobatas na parte esquerda da imagem espelha o movimento do salto do jovem, ao passo que a escada e os anéis de metal em primeiro plano lembram os objetos que são usados em números cirsenses.
 
O fotojornalista Gyula Halasz, conhecido como Brassaï , também captou a atmosfera das ruas de Paris com imagens como Coluna Morris. Ela transmite o isolamento da vida noturna na cidade como um personagem solitário contra um fundo de meia-luz. Muitas das imagens de Brassaï foram tiradas enquanto ele caminhava pelas ruas de Montparnasse à noite, fotografando prostitutas, artistas e criminosos.


Coluna Morris, 1934. Foto: Brassaï


A fotografia de rua, como o estilo ficou conhecido, expandiu os limites da fotografia documental. O austríaco Usher Fellig, conhecido como Weegee, levou as lentes de sua câmera para dentro dos mais horríveis cenários para registrar criminosos, bêbados, brigas, acidentes de carro, incêndios e assassinatos à noite.


Weegee collection


Brassaï foi uma importante influência na obra do fotógrafo britânico Bill Brandt. Ele foi contratado pelo Departamento de Guerra para tirar fotografias dos britânicos durante a Depressão e os ataques alemães, e o resultado revolucionou a fotografia no país. Seu livro The English at home mostra o contraste marcante entre a vida prazerosa da aristocracia e o trabalho árduo dos operários. Posteriormente, Brandt se voltou para paisagens, retratos e nus, fazendo experiências com a luz e o contraste em suas fotografias. Sua série de nus publicada no livro Perspective of nudes foi impressa com seu característico estilo de alto contraste, sem tons medianos ou detalhes.

East Durham coal miner just home from the pit, 1937. Foto: Bill Brand


Nude London, 1952. Foto: Bill Brand.

 


Brandt era fotojornalista quando o gênero ainda estava nascendo. Foi a tecnologia das câmeras mais leves que deu origem ao fotojornalismo.
 
Durante a Grande Depressão, artistas de todos os tipos foram inspirados por temas sociais, e os fotógrafos não foram exceção. O grupo Photo League disponibilizou salas escuras de baixo custo e treinamento técnico, e muitos de seus membros ficaram famosos, entre eles Dorothea Lange. Suas emocionantes imagens das pessoas desempregadas e sem-teto, como Anjo branco na fila do pão, tornaram a crise econômica mais humana. Ela foi contratada pelo Departamento de Seguros Agrícolas, num projeto que durou de 1935 a 1944, para registrar as condições de vida dos agricultores e dos operários migrantes nas áreas rurais. Mãe migrante foi tirada em Nipomo, na Califórnia, e mostra uma trabalhadora pobre das fazendas de ervilha com dois filhos. O estilo de Lange, com atenção ao sofrimento individual sob a pressão da pobreza, definiu a época e influenciou gerações posteriores de fotógrafos documentais.
 


Mãe migrante, 1936. Foto: Dorothea Lange.

 
 
Revistas de moda, como a Vogue americana e a Harper's Bazaar,  tornaram-se cada vez mais populares a partir da década de 1930. Richard Avedon foi um dos primeiros fotógrafos de moda e revolucionou o setor dando às suas imagens emoção e movimento. A mistura entre fotografia de moda e arte era frequente. O fotógrafo britânico Sir Cecil Beaton é reverenciado por seus retratos inovadores e suas imagens graciosas. Suas composições em close e o uso de estátuas clássicas, tecidos brilhantes e pedaços de papel devem muito ao surrealismo de artistas como Salvador Dali e Man Ray.

Brigitte Bardot, 1959. Foto: Richard Avedon.

 

Marian Anderson, 1955. Foto: Richard Avedon.

Marilyn Monroe. Foto: Cecil Beaton.
Maria Callas, 1957. Foto: Cecil Beaton.

Fashion Photography, 1920. Foto: Cecil Beaton.

Famous Beauties Ball, 1931. Foto: Cecil Beaton.




 
A Segunda Guerra Mundial testemunhou a transformação de alguns fotojornalistas em fotógrafos de guerra. O húngaro Robert Capa teve seu batismo de fogo como fotógrafo de guerra durante a Guerra Civil Espanhola e ganhou fama com a imagem A morte do soldado legalista. A fotografia mostra um soldado caindo para trás depois de receber um tiro, e acredita-se que o registro foi o momento da sua morte. Por mais famosa que seja, a imagem é polêmica: há quem diga que ela foi encenada e que o soldado foi atingido por um tiro enquanto posava para a foto.
 
A morte do soldado legalista, 1936. Foto: Robert Capa.
 
 
Outro legado de Capa é a Agência Magnum, que ele fundou em 1947. A agência foi precursora da ideia de que os fotógrafos deveriam escolher seus próprios temas, e não serem responsáveis por cobrir histórias designadas por editores de imagem. Capa morreu com sua câmera na mão ao pisar numa mina terrestre em 1954, enquanto cobria a Primeira Guerra  da Indochina. A Agência Magnum continua a registrar os eventos mundiais e seu atual banco de imagens conta com mais de 600.000 fotografias.

Quer conferir o site da Agência Magnum? Então clica aqui: http://www.magnumphotos.com/