sábado, 4 de abril de 2015

Conceitualismo/Fluxus/Arte Povera/Arte performática: Jogos Mentais, 1952 em diante

Cildo Meireles, Volátil (1980-94).


Consiste em uma sala cheia de pó de talco.
O espectador abre uma porta e adentra numa sala escura e coberta com uma camada espessa de talco. Os seus pés afundam. A porta se fecha. Tateando as paredes desta sala, ele encontra uma porta.
Ao abrir esta porta, ele adentra numa nova câmara – um corredor com aproximadamente 14 metros de extensão -, tão escura quanto a anterior. Um cheiro de gás, como o utilizado em nossas cozinhas, impregna o ambiente. A camada espessa de talco continua no espaço, dificultando a movimentação do espectador, que caminhando chega ao final do corredor. Encontra uma vela. Uma vela descoberta.
Cildo Meireles transforma o espectador em sujeito ativo da ação.
Envolve fundamentalmente ideias, não tanto a criação de um objeto físico: por isso arte conceitual.
"A arte conceitual só é boa quando a ideia é boa".  Sol LeWitt
Marina Abramovic´. The artist is present (2010). MOMA.
Confere aqui:
Foi uma das exposições mais concorridas que o grande templo da arte moderna de Manhattan já havia apresentado.
O que impôs Marina Abramovic´, em particular, e a arte performática, em geral, à consciência do público? E por que tantas pessoas (inclusive celebridades) correram para ver sua mostra no MOMA?
Moda é um dos fatores. Hoje em dia a arte performática é bacana aos olhos da ponta de vanguarda do espectro do entretenimento. Björk, Lady Gaga, Antony Hegarty, Willem Dafoe e Cate Blanchett a citam todos como uma influência.
A arte performática deu a oportunidade aos museus de aumentar ainda mais o número de visitantes, apresentando uma nova concepção de entretenimento ao vivo.
Teatro participativo. Flash-mobs e festivais.
Happenings encenados no Black Mountain College, na Carolina do Norte, no início dos anos 1950. Foi do experimental à notoriedade.
 
4'33" de  John Cage. O pianista David Tudor passou 4'33" sentado a seu piano como um zumbi estupefato. Ele não moveu um músculo nem tocou uma tecla. Assistam aqui:
A obra, disse Cage, não era sobre o silêncio, era sobre a audição.
Para o artista Allan Kaprow, Jackson Pollock é que fora abençoado como verdadeiro gênio.
Allan Kaprow acrescentou uma infindável lista de materiais artísticos, inclusive cadeiras, comida, luzes elétricas e neon, fumaça, água, meias velhas, um cachorro e filmes. No futuro, disse, não será preciso dizer "sou um pintor" ou um "poeta" ou "um dançarino": simplesmente "sou um artista".

Performance 18 happenings em 6 partes (1959).
Todos os participantes (membros da plateia e artistas) receberam instruções específicas escritas por Kaprow num cartão que ele chamava de "partitura". Para acrescentar um elemento de acaso aos procedimentos, ele embaralhou os cartões antes de distribuí-los de modo que ninguém sabia de antemão o que seria solicitado a fazer.
As ações eram "situações saídas da vida real".
Johns e Rauschenberg faziam isso transformando mercadorias em arte; Kaprow obtinha um resultado semelhante transformando pessoas comuns em belas-artes.
" Uma caminhada pela 14th Street é mais assombrosa do que qualquer obra-prima da arte". Kaprow

Novo Realismo

Os novos realistas reclamam a criação de uma nova expressividade, à altura de uma outra realidade sócio-cultural, caracterizada pela hegemonia norte-americana no pós-guerra, pela máquina, pelas culturas de massa e informação, pela publicidade, pelos avanços tecnológicos que modificam o ambiente mais prosaico da vida cotidiana com os novos eletrodomésticos e, politicamente, pela realidade da guerra fria. Trata-se de religar a esfera da arte ao mundo baseando-se na introdução dos elementos do real nos trabalhos de arte.

Yves Klein (1928-62). Klein estava interessado no que chamava de "o vácuo" - o espaço infinito constituído pelo céu acima de nós e pelos mares, abaixo.




Yves Klein, Antropometrias (1960).

Convidou 3 modelos femininas, nuas, para se tornar "pincéis vivos", encharcando-se da tinta. As modelos tinham que apertar seus corpos nus empapados de IKB ( International Klein Blue) contra o quadro.

Lucio Fontana (1899-1968) aplicou uma lâmina de barbear às suas telas. Ele chamou isso de Espacialismo (Spazialismo), afirmando que representava a arte aproximando-se da ciência e da tecnologia. Suas telas fendidas - de que há muitas - têm o título Conceito espacial.
Ilusão de um profundo vácuo negro. Corte: conotações violentas, cirúrgicas e sexuais.

Conceito espacial: Espera
décollage: remoção de elementos
destruiu uma tela
ato de criação: ele fez uma obra de arte
objeto bidimensional em tridimensional
qualquer material de uma escultura
função da tela modificada: estamos espiando através dela

Arte Povera

Arte Povera que em italiano significa “arte pobre”. Foi um movimento artístico que teve sua origem na Itália da década de 1960. Pertencente a contracultura ganhou esse nome, pois os artistas criavam obras de arte utilizando materiais simples e sucatas.
Materias: graveto, trapos, jornal, e etc.
Tentar remover as barreiras entre diferentes gêneros artísticos.

Michelangelo Pistoletto (1933) foi membro fundador do movimento.
Esfera de jornais (1966). Fez uma experiência, levando uma gigantesca bola de um metro que fizera com jornais, para um passeio pelas ruas de Turim na companhia de membros variados do público, numa bizarra e divertida peça de arte performática intitulada Escultura ambulante (1967).


Michelangelo Pistoletto, Vênus dos trapos (1967).


 "reunir a beleza do passado e o desastre do presente"
Deusa idealizada da Antiguidade clássica X pilha de trapos modernos

Jannis Kounellis (n.1936)

Ele fazia arte com estrados de cama velhos, sacos de carvão, cabides de casaco, pedra, algodão, sacas de grão e até animais vivos.


Jannis Kounellis, Sem título (12 cavalos)(1969).

Ele estaria reagindo contra a comercialização da arte?

Fluxus

Menos que um estilo, um conjunto de procedimentos, um grupo específico ou uma coleção de objetos, o movimento fluxus traduz uma atitude diante do mundo, do fazer artístico e da cultura que se manifesta nas mais diversas formas de arte: música, dança, teatro, artes visuais, poesia, vídeo, fotografia e outras. Seu nascimento oficial está ligado ao Festival Internacional de Música Nova, em Wiesbaden, Alemanha, em 1962, e a George Maciunas (1931-1978), artista lituano radicado nos Estados Unidos, que batiza o movimento com uma palavra de origem latina, fluxus, que significa fluxo, movimento, escoamento.

Joseph Beuys, A matilha (1969).


Alcançou o status de Deus da arte em meio à vanguarda atual, que o considera um dos artistas mais importantes que emergiram na segunda metade do século XX.

Feltro. Gordura. Sobrevivência e uma impressão de crueza.

Beuys na 2ª Guerra Mundial foi salvo por um grupo de tártaros que lhe esfregou o corpo com gordura e o envolveu em feltro.

Numa de suas "ações" de arte performática chamada Eu gosto da América e a América gosta de mim (1974)(abaixo), Beuys se prendeu numa jaula por uma semana, tendo um coiote por única companhia. Muito estranho. Mas não tão estranho quanto a performance pela qual é mais prontamente lembrado: Como explicar pinturas a uma lebre morta (1965).

Beuys ficava sentado quieto numa cadeira num canto da Galerie Alfred Schmela em Düsseldorf. Tinha a cabeça besuntada com mel e uma boa quantidade de folhas de ouro e segurava nos braços uma lebre morta para a qual olhava fixamente. Após algum tempo ele se levantava e andava pela sala olhando para as pinturas na parede. Volta e meia erguia a lebre e lhe mostrava uma pintura, depois sussurava inaudivelmente em uma de suas orelhas. Por vezes parava e sentava-se  novamente, mas em momento algum se dirigia à plateia ou reconhecia sua presença. Isso prosseguia por três horas.
Amante dos animais, Beuys pensava que mesmo animais mortos têm "mais poderes de intuição que alguns seres humanos com sua teimosa racionalidade". A seu ver, a explicação de coisas a um animal morto "transmite uma sensação do sigilo do mundo".
Cut Piece (1964) de Yoko Ono ( n.1933), é uma obra alarmante e poderosa que demonstra, com consequências perturbadoras, como a plateia pode ser um elemento intrínseco numa obra de arte. Confere aqui: https://www.youtube.com/watch?v=lYJ3dPwa2tI

O vídeo expõe verdades sobre a natureza e as relações humanas, sobre agressores vítimas, sadismo e masoquismo, que poucas pinturas em que posso pensar são capazes de exprimir. 
Como em toda a arte performática, há uma narrativa: uma conversa provocada pela artista com a plateia, cujas ações são imprevisíveis e terão desfechos incognoscíveis. Se a arte existe para despertar nossos sentidos, para nos desafiar, nos ajudar a compreender, fazer-nos olhar novamente, então Cut Piece ("corte pedaços") de Ono é uma esplêndida obra de arte.

Sim, Yoko Ono é viúva de John Lennon.

Arte conceitual

Bruce Nauman (n.1941), em 1967, fez o vídeo Dança ou exercício sobre o perímetro de um quadrado ( Quadrilha), um filme de dez minutos de duração num loop contínuo. 
Nauman é o objeto que representa a humanidade: nunca aprendendo, nunca avançando; repetindo-se eternamente . O metrônomo marca a implacabilidade do tempo que dita nossas vidas. O ateliê é o espaço que o tempo e o objeto habitam. Nauman transformou sua ideia de filmar um movimento simples, corriqueiro -dar um passo para o lado-, numa intrigante obra de arte. A repetição é um componente importante - tem a ver com obsessões, com processo e, em última análise, com a condição humana. Confere o vídeo aqui:https://www.youtube.com/watch?v=IMSyhyvr0mw

O coletor ( 1990-92) é um filme de Francis Alÿs (n.1959) que o mostra arrastando um cachorro de brinquedo com rodinhas magnéticas por uma rua, coletando lâminas de metal, tachinhas e moedas enquanto avança. É uma obra de um arqueólogo em tempo real, estudando a cultura contemporânea mediante a coleta de artefatos e restos de nossas vidas movimentadas. Em Re-encenações (2000) ele entrou numa loja de armas na Cidade do México, comprou uma pistola Beretta 9 mm, carregou-a e saiu para um passeio pelas ruas segurando a arma na mão direita em plena vista do público. 
O objetivo da reencenação era realçar a natureza espúria dos documentários em geral, e daqueles que veiculam uma performance artística em particular. Alÿs está nos tornando cientes de que quando nos postamos na galeria assistindo as suas farsas surreais, ou assistimos a um documentário na televisão, há sempre um elemento de mediação, subjetividade e encenação envolvido.

Confere o vídeo de O coletor aqui:https://www.youtube.com/watch?v=x5qLHRdNSkk


Enquanto o artista radicado na Cidade do México faz filmes de reação de outras pessoas a seu trabalho, Richard Long faz fotografias de paisagens estéreis. Estas não têm o estilo de instantâneos jornalísticos, mas são eventos meticulosamente planejados e encenados. Quando tinha apenas 22 anos, Long fez uma obra chamada Uma linha feita ao caminhar ( 1967) quando voltava da escola de arte em Londres para casa. Ele abriu um caminho visível com suas pisadas, que em seguida fotografou.
Esse é um dos primeiros exemplos de land art, um ramo de arte conceitual que ganhou proeminência nos final dos anos 60 e início dos anos 70. 
Quebra-mar em espiral (1970), de Robert Smithson (1938-1973) - feita de rochas de basalto preto. A espiral no sentido anti-horário tem qualidades místicas e míticas; é antiga e moderna, abstrata e literal.

"O artista busca a ficção que a realidade irá mais cedo ou mais tarde imitar". 
Smithson morreu em 1973 num desastre de avião quando estava fotografando mais uma de suas land art.
A obra trata fundamentalmente da relação do homem com o seu meio ambiente e do modo como as estruturas à nossa volta afetam nosso comportamento. Ela mede 460 metros de comprimento por 4,6 metros de largura. 







domingo, 22 de fevereiro de 2015

Pop Art: 1956-1970

Em 1947, Eduardo Paolozzi (1924-2005), então com 23 anos, foi a Paris seguir seu sonho de ser artista. Ali conheceu muitos expoentes da arte moderna, entre os quais Tristan Tzara, Alberto Giacometti e Georges Braque. Ele mergulhou nas ideias do dadaísmo e surrealismo.
Foi nesse ano que produziu Eu era o brinquedo de um ricaço (1947): uma colagem feita de imagens de revista de papel brilhoso que lhe haviam sido dadas por soldados norte-americanos que conhecera em Paris.

A colagem é tosca em todos os aspectos. A coleção de recortes de revistas e o cartão-postal estão colados com pouco senso de permanência, ao mesmo tempo que o tom do quadro é atrevido e cheio de sugestões sexuais.
Dentro da bolha de fumaça branca que emana da pistola está a palavra "POP!"- escrita em vermelho. A colagem tem todas as características distintivas do movimento que só seria oficialmente fundado uma década depois: tanto a revista maliciosa quanto a fonte no estilo de revista em quadrinhos que Paolozzi usou para a palavra "pop" apontam para o fascínio pela pop art entre os jovens e descolados, a cultura popular, o sexo fortuito e os meios de comunicação de massa.
Paolozzi identificou o poder da celebridade, das mercadorias de marca e da publicidade numa nova era de consumismo. Uma era em que tais deleites seriam o ópio das massas: a cocaína do capitalismo.

A colagem de Paolozzi encarnava o espírito fundamental da pop art: a crença de que alta e baixa cultura são uma só e mesma coisa, que imagens de revista e garrafas de bebida eram tão válidas como formas de arte para criticar a sociedade quanto as pinturas a óleo e as esculturas de bronze adquiridas e expostas pelos museus.

Eu era o brinquedo de um ricaço, de Paolozzi, foi uma das várias colagens que ele usou para ilustrar uma palestra que deu no Institute of Contemporary Arts (ICA), em Londres, em 1952. Ele intitulou a palestra "BOBAGEM!", citando uma frase dita por Henry Ford ao jornal Chicago Tribune : "A história é mais ou menos bobagem. É tradição. Nós não queremos tradição. Queremos viver no presente". É uma declaração que evoca o futurismo de Marinetti, e talvez por isso tivesse agitado o sangue italiano de Paolozzi. Ele não estava sozinho em seu fascínio pela cultura de consumo. Esse era um interesse compartilhado por alguns de seus amigos britânicos - um grupo muito unido de artistas, arquitetos e professores radicado em Londres que se tornou conhecido como Grupo Independente.


Richard Hamilton (1922-2011) contribuiu de maneira entusiástica para a exposição This is Tomorrow, montada em 1956 na Whitechapel Art Gallery, no leste de Londres, uma mostra que pretendeu olhar para a frente após a austeridade dos anos seguintes à guerra.

O que exatamente torna os lares de hoje tão  diferentes, tão atraentes? (1956)(abaixo) é uma colagem com recortes de revista num papelão. O casal da imagem está cercado pelas mais recentes comodidades domésticas: uma televisão, um aspirador de pó, presunto enlatado e um gravador de último tipo colocado no assoalho.


Hamilton expressou o otimismo da sociedade em relação a um futuro higt-tech. Um futuro em que todos (pelo menos no Ocidente) viveriam uma vida de abundância, facilitada por produtos modernos, e teriam tempo livre para usufruí-los. A vida estava se transformando de esforço árduo em leve entretenimento. O futuro seria preenchido com filmes e música pop, carros velozes, engenhocas práticas, comida enlatada e aparelhos de tv.

Hamilton definiu a cultura popular como: "Popular (destinada a um público de massa), Transitória (solução de curto prazo), Descartável (facilmente esquecida) , Barata (produzida em massa), Jovem (destinada à juventude), Espirituosa, Sexy, Atraente, Glamurosa e Muito Lucrativa".

A pop art era um movimento extremamente político, com aguda consciência dos demônios e armadilhas ocultos na sociedade que estava retratando. os artistas pop, como os impressionistas nos anos 1870, tinham olhado à sua volta e documentado o que viam. 

Os dois jovens norte-americanos sentiam que os expressionistas abstratos haviam perdido contato com a realidade. Haviam se envolvido demais consigo mesmos, abandonando temas reais em favor de pronunciamentos grandiosos de seus próprios sentimentos. Menos obcecados por si mesmos, Johns e Rauschenberg queriam refletir e discutir a realidade da monotonia da vida à sua volta, que era os Estados Unidos modernos nos anos 1950. A partir de seu ateliê em Nova York eles trabalharam juntos, compartilharam ideias e criticaram o que produziam. Foi uma parceria de dois artistas de mentalidades semelhantes que se ajudaram mutuamente a galgar novas alturas e desbravar novos territórios, cada um no próprio estilo. A obra produzida por Johns e Rauschenberg abriu caminho para Andy Warhol ( que comprou o desenho de uma lâmpada feito por Johns em 1961) e Roy Lichtenstein: os dois sumos sacerdotes da pop art norte-americana. Naquele estágio, porém - Nova York em meados da década de 50-, Rauschenberg e Johns eram conhecidos como neodadaístas. 


Bandeira (1954 -55) Jasper Johns




Feita a partir de pedaços de jornal e tela, pintada com o uso da antiga técnica da encáustica. Toda a superfície é a bandeira norte-americana, sem deixar margem ou moldura.
Johns está jogando um jogo mental, questionando se essa é de fato uma bandeira ou a pintura de uma. Afinal, se uma bandeira nada mais é que tecido a que foi acrescentada cor - não pode ser o próprio emblema dos Estados Unidos? 

Em que momento a arte se torna uma mercadoria e uma mercadoria se torna arte?

Suas pinturas nos obrigam a prestar atenção ao mundo em que vivemos. Sua arte, nesse aspecto, era voltada para fora, e a antítese das declarações audaciosas do expressionismo abstrato sobre nossos sentimentos íntimos.

Para Rauschenberg seu ponto de partida foram os readymades de Duchamp e o conceito de Merz de Schwitters - arte elevada feita a partir de cultura vulgar. O artista norte-americano percorria alguns quarteirões em torno de seu ateliê em Nova York à procura de objetos "achados"- sucata, fragmentos e curiosidades que pudesse transformar em expressão artística. Para ele a rua era uma paleta e o piso de seu ateliê, um cavalete. 

Monograma (1955-59).Rauschenberg



cabra: expressão de amor pelos animais
pneu: representa uma era nova, mais insensível. Rauschenberg morou perto de uma fábrica de pneus na sua infância
tinta aplicada na cabra: crítica aos expressionistas abstratos
manga da camisa: remete à infância de Rauschenberg, pois ele não tinha como comprar camisas novas
sola de sapato: caminhadas do artista
bola de tênis: esforço físico

Monograma é a sobreposição, agrupamento ou combinação de duas ou mais letras ou outros elementos gráficos para formar um símbolo.

Produziu também uma série de Pinturas brancas (1951)(abaixo)



Pinturas brancas (1951), que foi ao mesmo tempo uma troça ao expressionismo abstrato, uma mesura à famosa pintura suprematista Branco sobre branco (1918) de Malevich e uma exploração de "até onde é possível empurrar um objeto sem que ele perca por completo seu significado". As Pinturas brancas consistiam em telas retangulares ou quadradas idênticas uniformemente cobertas de tinta branca, penduradas uma junta da outra como soldados numa parada. Não pretendiam ser pinturas expressionistas carregadas de ansiedade, mas obras de arte que eram ativadas por incidente e acaso, como poeira pousando na tela, ou a sombra de alguém a contemplá-las, ou um raio de luz salpicando sua superfície.


Curadores e outros artistas deslocavam-se até as principais galerias de arte de Manhattan para ver as obras de Rauschenberg e Johns.

De Kooning era um dos artistas mais respeitados do mundo - uma pessoa cuja simples presença enchia todos de reverente admiração. Rauschenberg, em comparação, era um iniciante presunçoso: um ninguém. 

Rauschenberg foi até o ateliê do artista De Kooning e  pediu a ele um trabalho de que sentiria falta, e que fosse muito difícil de apagar. Rauschenberg labutou durante um mês, removendo os traços de De Kooning com uma borracha. Ele conseguiu. O objetivo do exercício não era um ato dadaísta de destruição, mas uma tentativa de encontrar uma maneira de incorporar um desenho em sua série toda branca.
O Desenho de De Kooning apagado (imagem abaixo), visto como uma das primeiras peças de arte performática, inspirou uma geração de artistas nos anos 1960. 
As Pinturas brancas estavam certamente na mente de Richard Hamilton quando ele foi convidado pelos Beatles para criar a capa para seu Álbum branco (1968): uma capa branca lisa, com o nome da banda estampado em relevo de maneira apenas visível.
E as Pinturas brancas funcionaram como um precursor do minimalismo, ao mesmo tempo, que deram ao compositor - e grande amigo de Rauschenberg - John Cage o ímpeto para escrever sua famosa peça de não música 4'33: quatro minutos e 33 segundos da experiência sonora que Cage disse preferir a todas as outras: silêncio.
Rauschenberg e Johns haviam decidido libertar a arte moderna norte-americana do controle inamistoso do expressionismo abstrato, e conseguiram. Suas imagens e apropriações da cultura popular deixaram de ser vistas como piada e começaram a ser levadas a sério.

O Desenho de De Kooning apagado (1953). Rauschenberg.





No final dos anos 50, Warhol ainda não tinha descoberto sua própria temática ou estilos sobre os quais construir sua carreira nas belas-artes.
Em Coca-Cola(1960) . Era subjetivo demais.


Andy seguindo as dicas de Irving Blum reconcebeu a obra Latas de sopa Campbell (1962) em uma unidade composta por 32 telas. A obra definiu a pop art e a obsessão primordial do movimento pela produção em massa e a cultura de consumo. A decisão de Warhol de não criar seu próprio estilo gráfico, mas imitar o das latas de sopa Campbell, tem uma dimensão social e política. Era uma censura duchampiana ao mundo das artes por elevar artistas ao papel de gênios onividentes, além de ser um comentário sobre o status diminuído dos trabalhadores individuais no mundo homogeneizado da produção em massa.


"Por trás da aparente ausência de alma do motivo repetido está a mão do artista, um indivíduo cuja tarefa é executar a obra. Assim como por trás da criação de uma lata de sopa Campbell estão os esforços de indivíduos desconhecidos e não devidamente reconhecidos".

O artista chinês Ai Weiwei estava propondo uma ideia semelhante na Tate Modern em 2010 quando encheu o cavernoso Turbine Hall da instituição com 100 milhões de semente de girassol de porcelana. O artista estava se referindo à vasta população chinesa e lembrando o mundo que seus compatriotas não são uma massa singular que pode ser irrefletidamente menosprezada, mas uma coleção de pessoas singulares com suas esperanças e necessidades.

Díptico de Marilyn (1962). O objetivo era eliminar sua mão por completo da execução da obra de arte, encontrar um efeito mais "linha de montagem", que ajudaria a fechar a brecha entre suas imagens, sua produção e aquelas que elas estavam imitando. A impressão por serigrafia fez isso e mais: permitiu a Warhol empregar as cores berrantes usadas na esfera comercial.


Num lado a imagem de Marilyn nunca envelhece - ela é jovem e linda, sensual e animada. Enquanto isso, no outro lado - no sótão, por assim dizer - há uma imagem de sua deteriorização de uma beleza de tela (de seda) para uma mulher fantasmal que perdeu seu esplendor. Sem dúvida ele havia transformado a atriz num produto, mas os fornecedores e consumidores da cultura pop tinham feito o mesmo.

Roy Lichtenstein se deparou com as HQ's em 1961. Nos anos 1960, os quadrinhos em cores usavam uma técnica de impressão chamada Ben-Day Dots. Ela se baseia nos mesmos princípios do pontilhismo de Georges Seurat. Isso economizava dinheiro. 
Davam-se conta da ironia de terem pago uma grande soma de dinheiro por uma cópia de um objeto sem valor e produzido em massa? Ou afluíam para comprar pinturas de Lichtenstein porque elas eram divertidas e alegravam uma sala?


Peter Blake (1932) criou o design da capa do álbum dos Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. As cores vivas, o humor irônico e a apropriação de imagens de celebridades das mais diversas esferas são todos característicos da pop art de Blake.


Claes Oldenburg (n.1929) se mudou para Nova York em meados dos anos 1950 e tornou-se atuante no cenário da arte de vanguarda. Em 1961 alugou um prédio no Lower East Side por um mês, no qual instalou A loja (1961). No fundo do prédio ele fabricava os "produtos" para seu empreendimento, que era uma loja varejista em pleno funcionamento, "aberta" na parte da frente do prédio. Oldenburg estocou sua loja com chapéus, vestidos, lingerie, camisa e os mais diversos artigos, inclusive bolos: tudo podia ser comprado.


Não eram feitos de algodão delicado, ou dos mais finos ingredientes, mas com tela de arame, estuque, musselina e pegajosos nacos de tinta. O artista pendurou suas mercadorias toscamente feitas no teto, empilhou-as contra a parede ou deixou-as soltas no meio da loja. O efeito foi tornar o lugar parecido com uma gruta de Satã: um lugar cheio de itens inúteis e ofensivos, enganosamente vendidos como objetos de desejo.

Ele fixou o preço de seus produtos, ou talvez eu devesse dizer "esculturas", da mesma forma que o comércio em geral. Um "vestido" podia ser adquirido por USS 349,99 e um bolo, por Uss 199,99.

Fez muito sucesso com curadores, colecionadores e artistas afluindo em massa à loja para ver e nem é preciso dizer - comprar.
Em 1962 fez uma escultura chamada Dois cheeseburgers com tudo (Hambúrguer dual). É mais uma peça quintessencial da pop art. É engraçada, é banal, eleva a junk food a arte elevada e é o epítome da cultura de consumo (observe que o pedido inclui as palavras "com tudo"). As ironias abundam, como o enorme tempo despendido para fazer algo que é consumido em segundos, e a escultura é tão bonita que dá vontade de comer, mas é feita de estuque e esmalte.
Como comida, é uma ilusão; a satisfação é garantida, mas no fim das contas inalcançável. Como obra de arte, porém, cumpre sua promessa de divertir e alimentar.


 A loja era um cenário teatral em que nossa interação com o que os curadores chamam de "ambiente" ou instalação faz de nós o jogador principal: a estrela do show.

Os happenings em que Oldenburg estava envolvido eram eventos marginais, muitas vezes anunciados como instalações, que tinham a sensibilidade pop art do aqui e agora e do efêmero. Confere aqui mais um vídeo:https://www.youtube.com/watch?v=AxPtQKJOZzU

Kaprow (1927-2006) que disse a Roy, quando o artista pop estava indeciso quanto a explorar seu estilo Ben- Day, que "arte não precisa parecer arte para ser arte". 


sábado, 21 de fevereiro de 2015

Surrealismo: 1924-45 Parte II

Joan Miró (1893-1983)

Carnaval de Arlequim (1924-25)


Apresenta vários elementos: formas biomórficas, as linhas onduladas e muito preto, vermelho, verde, e azul - tudo executado com o que parece ser uma ingenuidade infantil.
Breton descreveu o surrealismo como "automatismo psíquico em estado puro", querendo se referir à escrita ou à pintura feita de maneira espontânea, livre de qualquer associação consciente, ideias preconcebidas ou intenção específica.

Interpretação de O Carnaval de Arlequim:

Bola verde à direita: mundo a ser conquistado
escada com um olho e uma orelha pregados: alusão ao medo do artista de cair numa armadilha
triângulo preto na janela: torre Eiffel (cidade dos sonhos de Miró)
insetos, cores e formas: evocam as raízes espanholas do artista

Isso explica a falta de estrutura óbvia na pintura de Miró, embora ele de fato tenha planejado uma.

A arte de Miró é mais alucinatória que "onírica": seus quadros do começo da década de 1920 trazem as marcas das visões que experimentou em épocas de pobreza e fome. Suas complexas paisagens são habitadas por estranhos seres feitos de hastes e amebas. As cores fortes e as formas fantásticas também são típicas do estilo de Miró: Hirondelle Amour(abaixo) é uma de quatro pinturas preparatórias para tapeçarias produzidas durante o período que marcou seu retorno à pintura, após trabalhar em colagens e criações baseadas em obras-primas holandesas.

óleo sobre tela. MoMA, NY




Max Ernst (1891-1976), artista alemão que foi uma figura instrumental na emergência do surrealismo.

Célebes (1921)(abaixo)
óleo. Tate Gallery, London


O elefante cinzento de Ernst monopoliza a pintura, tomando a forma cilíndrica de uma caldeira antiquada ou de um aspirador de pó industrial.
As características mecânicas e físicas do animal lembram um tanque militar; a alusão é amplificada por sua localização, que parece ser um campo de aviação.
Ernst combinara objetos e ambientes desconexos a fim de produzir uma pintura perturbadora, dotada do espírito freudiano de uma associação livre "automática".
Ernst produziu muitas colagens depois de se mudar para Paris e desenvolveu as técnicas gráficas de "frottage"- friccionar objetos com o lápis para criar imagens - e "grottage" - espalhar tinta semisseca por toda a tela para revelar as marcas de objetos por baixo. Suas telas são habitadas por formas de vida inventadas e revelam também seu fascínio pelas aves, como em Monumento aos pássaros (1927)(abaixo).

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Em Floresta e pomba (1927) ele transformou uma fricção numa ameaçadora floresta escura.



René Magritte (1898-1967) adotou uma abordagem ligeiramente diferente das paisagens de sua vida onírica. Ele era tão convencional quanto Dalì era excêntrico, mas talvez habitasse um lugar ainda mais estranho: um mundo corriqueiro e trivial em que o ordinário é extraordinário - num mau sentido.

O assassino ameaçado (1927)(abaixo) é uma imagem macabra, inquietante, como o clima de um romance policial sueco.




Magritte aprendera que os cartazes publicitários mais eficazes baseiam-se em imagens que apelam para a ambição combinadas com ideias largamente aceitas. O corriqueiro e o inalcançável são os instrumentos do publicitário que, quando aplicados por um artista como Magritte, podem ser transformados em poderosas metáforas de seu "realismo mágico". Ele está nos dizendo que a vida é uma ilusão; nenhuma imagem é real - inclusive aquelas apresentadas por nosso vizinho do lado, supostamente normal.
Sua pintura de um cachimbo comum intitulado "Ceci n'est pas une pipe" (Isto não é um cachimbo; 1928-1929) instigava o observador a fazer a pergunta: "Se não é um cachimbo, o que é?" Magritte acreditava que o público deveria prestar atenção na realidade retratada, para desvendar dentro de si seus enigmas ocultos.




Para Magritte, a realidade diária era repleta de paradoxos e aberta a múltiplas interpretações. O pintor adotou esse tema em uma série de pinturas denominada Chave dos sonhos (1927)(abaixo), na qual ele retratou objetos não ambíguos sobre telas. Sob cada imagem ele pintou uma palavra que descrevia o objeto de maneira incorreta - por exemplo, a folha recebeu o nome de "a mesa" e bolsa, "o céu"- exceto pela quarta e última imagem, cujo nome está correto. É essa última imagem a que mais desconcerta o espectador, ressaltando o papel desempenhado pelo nome na maneira como a realidade visual é compreendida.




Os principais artistas que retratavam suas visões de sonho e pesadelo foram: Salvador Dali, René Magritte e Yves Tanguy, todos influenciados pela arte metafísica de Giorgio de Chirico surgida entre 1913 e 1920. Como a palavra "surreal" não existia na época, De Chirico chamava suas pinturas inesquecivelmente estranhas de "metafísicas".

Canção de amor (1914). Giorgio de Chirico(1888-1978)





Mistura de elementos heteróclitos de maneira fantástica inspira uma profunda sensação de solidão e mau pressentimento. As imagens estilizadas, a perspectiva ilógica e as sombras engendram um sentimento lúgubre acentuado pela ausência de pessoas.
A obra lembra as pinturas do pintor realista norte-americano Edward Hopper. Ele também tinha a capacidade de atrair o espectador para um mundo de melancolia e ruína, com imagens de figuras solitárias e expostas em ambientes isolados e abandonados.

Noctâmbulos (1942). Edward Hopper



Hopper começou a se interessar pelo surrealismo em 1936, após visitar uma exposição no MoMA chamada Arte Fantástica, Dadaísmo e Surrealismo.

"Finalmente me livrei do pegajoso meio da tinta, e agora trabalho diretamente com a própria luz ". Man Ray

Sua exploração tenaz do potencial pictórico da fotografia levou-o a uma técnica bastante diferente, mas igualmente poderosa, que chamou de rayograph, ou "raiografia". Era uma forma de fotograma (fotografia sem câmera) que ele descobriu em seu ateliê ao deixar cair por acidente uma folha não exposta de papel fotográfico numa bandeja de revelação em que já havia uma folha exposta. Ele descobriu que quando punha um item físico sobre o papel (chave, lápis, etc) e acendia a luz, o objeto imprimia uma versão negativa de si mesmo na folha fotográfica preta na forma de uma sombra branca fantasmal. Tinha-se a impressão de que ele havia tirado uma fotografia de um sonho.

Raiografias sem título




As raiografias foram chamadas, pelo artista, como "pinturas com luz".

Man Ray descobriu por meio de um incidente, quando o seu assistente e fotógrafo norte-americano Lee Miller acendeu a luz do ateliê escuro, os negativos foram arruinados. Mas, estavam arruinados de uma maneira artística.

Havia descoberto uma imagem em que a realidade passa pouco a pouco para um estado onírico.

O primado da matéria sobre o pensamento surrealista (1929)(abaixo)



O corpo e a cabeça da mulher têm bordas imprecisas, graças ao efeito da técnica de "solarização" descoberta por Man Ray.
Essa imagem lida com muitas das preocupações surrealistas: sexo, sonhos e combinações perturbadoras.





Guernica, 1937. Pablo Picasso



Embora Picasso não fizesse parte oficial do movimento surrealista, a obra está repleta de evidências dessa influência sobre o artista. Picasso combinou esses elementos surrealistas com suas próprias inovações cubistas para produzir uma insólita evocação de sofrimento.

A imagem do Minotauro - a criatura da mitologia grega, metade homem, metade touro - foi usada por Picasso muito antes de Guernica. Na primeira edição da revista surrealista Le Minotaure, publicada entre 1933 e 1939, Picasso produziu um módulo em desenho, encomendado pelos editores.