sábado, 4 de abril de 2015

Conceitualismo/Fluxus/Arte Povera/Arte performática: Jogos Mentais, 1952 em diante

Cildo Meireles, Volátil (1980-94).


Consiste em uma sala cheia de pó de talco.
O espectador abre uma porta e adentra numa sala escura e coberta com uma camada espessa de talco. Os seus pés afundam. A porta se fecha. Tateando as paredes desta sala, ele encontra uma porta.
Ao abrir esta porta, ele adentra numa nova câmara – um corredor com aproximadamente 14 metros de extensão -, tão escura quanto a anterior. Um cheiro de gás, como o utilizado em nossas cozinhas, impregna o ambiente. A camada espessa de talco continua no espaço, dificultando a movimentação do espectador, que caminhando chega ao final do corredor. Encontra uma vela. Uma vela descoberta.
Cildo Meireles transforma o espectador em sujeito ativo da ação.
Envolve fundamentalmente ideias, não tanto a criação de um objeto físico: por isso arte conceitual.
"A arte conceitual só é boa quando a ideia é boa".  Sol LeWitt
Marina Abramovic´. The artist is present (2010). MOMA.
Confere aqui:
Foi uma das exposições mais concorridas que o grande templo da arte moderna de Manhattan já havia apresentado.
O que impôs Marina Abramovic´, em particular, e a arte performática, em geral, à consciência do público? E por que tantas pessoas (inclusive celebridades) correram para ver sua mostra no MOMA?
Moda é um dos fatores. Hoje em dia a arte performática é bacana aos olhos da ponta de vanguarda do espectro do entretenimento. Björk, Lady Gaga, Antony Hegarty, Willem Dafoe e Cate Blanchett a citam todos como uma influência.
A arte performática deu a oportunidade aos museus de aumentar ainda mais o número de visitantes, apresentando uma nova concepção de entretenimento ao vivo.
Teatro participativo. Flash-mobs e festivais.
Happenings encenados no Black Mountain College, na Carolina do Norte, no início dos anos 1950. Foi do experimental à notoriedade.
 
4'33" de  John Cage. O pianista David Tudor passou 4'33" sentado a seu piano como um zumbi estupefato. Ele não moveu um músculo nem tocou uma tecla. Assistam aqui:
A obra, disse Cage, não era sobre o silêncio, era sobre a audição.
Para o artista Allan Kaprow, Jackson Pollock é que fora abençoado como verdadeiro gênio.
Allan Kaprow acrescentou uma infindável lista de materiais artísticos, inclusive cadeiras, comida, luzes elétricas e neon, fumaça, água, meias velhas, um cachorro e filmes. No futuro, disse, não será preciso dizer "sou um pintor" ou um "poeta" ou "um dançarino": simplesmente "sou um artista".

Performance 18 happenings em 6 partes (1959).
Todos os participantes (membros da plateia e artistas) receberam instruções específicas escritas por Kaprow num cartão que ele chamava de "partitura". Para acrescentar um elemento de acaso aos procedimentos, ele embaralhou os cartões antes de distribuí-los de modo que ninguém sabia de antemão o que seria solicitado a fazer.
As ações eram "situações saídas da vida real".
Johns e Rauschenberg faziam isso transformando mercadorias em arte; Kaprow obtinha um resultado semelhante transformando pessoas comuns em belas-artes.
" Uma caminhada pela 14th Street é mais assombrosa do que qualquer obra-prima da arte". Kaprow

Novo Realismo

Os novos realistas reclamam a criação de uma nova expressividade, à altura de uma outra realidade sócio-cultural, caracterizada pela hegemonia norte-americana no pós-guerra, pela máquina, pelas culturas de massa e informação, pela publicidade, pelos avanços tecnológicos que modificam o ambiente mais prosaico da vida cotidiana com os novos eletrodomésticos e, politicamente, pela realidade da guerra fria. Trata-se de religar a esfera da arte ao mundo baseando-se na introdução dos elementos do real nos trabalhos de arte.

Yves Klein (1928-62). Klein estava interessado no que chamava de "o vácuo" - o espaço infinito constituído pelo céu acima de nós e pelos mares, abaixo.




Yves Klein, Antropometrias (1960).

Convidou 3 modelos femininas, nuas, para se tornar "pincéis vivos", encharcando-se da tinta. As modelos tinham que apertar seus corpos nus empapados de IKB ( International Klein Blue) contra o quadro.

Lucio Fontana (1899-1968) aplicou uma lâmina de barbear às suas telas. Ele chamou isso de Espacialismo (Spazialismo), afirmando que representava a arte aproximando-se da ciência e da tecnologia. Suas telas fendidas - de que há muitas - têm o título Conceito espacial.
Ilusão de um profundo vácuo negro. Corte: conotações violentas, cirúrgicas e sexuais.

Conceito espacial: Espera
décollage: remoção de elementos
destruiu uma tela
ato de criação: ele fez uma obra de arte
objeto bidimensional em tridimensional
qualquer material de uma escultura
função da tela modificada: estamos espiando através dela

Arte Povera

Arte Povera que em italiano significa “arte pobre”. Foi um movimento artístico que teve sua origem na Itália da década de 1960. Pertencente a contracultura ganhou esse nome, pois os artistas criavam obras de arte utilizando materiais simples e sucatas.
Materias: graveto, trapos, jornal, e etc.
Tentar remover as barreiras entre diferentes gêneros artísticos.

Michelangelo Pistoletto (1933) foi membro fundador do movimento.
Esfera de jornais (1966). Fez uma experiência, levando uma gigantesca bola de um metro que fizera com jornais, para um passeio pelas ruas de Turim na companhia de membros variados do público, numa bizarra e divertida peça de arte performática intitulada Escultura ambulante (1967).


Michelangelo Pistoletto, Vênus dos trapos (1967).


 "reunir a beleza do passado e o desastre do presente"
Deusa idealizada da Antiguidade clássica X pilha de trapos modernos

Jannis Kounellis (n.1936)

Ele fazia arte com estrados de cama velhos, sacos de carvão, cabides de casaco, pedra, algodão, sacas de grão e até animais vivos.


Jannis Kounellis, Sem título (12 cavalos)(1969).

Ele estaria reagindo contra a comercialização da arte?

Fluxus

Menos que um estilo, um conjunto de procedimentos, um grupo específico ou uma coleção de objetos, o movimento fluxus traduz uma atitude diante do mundo, do fazer artístico e da cultura que se manifesta nas mais diversas formas de arte: música, dança, teatro, artes visuais, poesia, vídeo, fotografia e outras. Seu nascimento oficial está ligado ao Festival Internacional de Música Nova, em Wiesbaden, Alemanha, em 1962, e a George Maciunas (1931-1978), artista lituano radicado nos Estados Unidos, que batiza o movimento com uma palavra de origem latina, fluxus, que significa fluxo, movimento, escoamento.

Joseph Beuys, A matilha (1969).


Alcançou o status de Deus da arte em meio à vanguarda atual, que o considera um dos artistas mais importantes que emergiram na segunda metade do século XX.

Feltro. Gordura. Sobrevivência e uma impressão de crueza.

Beuys na 2ª Guerra Mundial foi salvo por um grupo de tártaros que lhe esfregou o corpo com gordura e o envolveu em feltro.

Numa de suas "ações" de arte performática chamada Eu gosto da América e a América gosta de mim (1974)(abaixo), Beuys se prendeu numa jaula por uma semana, tendo um coiote por única companhia. Muito estranho. Mas não tão estranho quanto a performance pela qual é mais prontamente lembrado: Como explicar pinturas a uma lebre morta (1965).

Beuys ficava sentado quieto numa cadeira num canto da Galerie Alfred Schmela em Düsseldorf. Tinha a cabeça besuntada com mel e uma boa quantidade de folhas de ouro e segurava nos braços uma lebre morta para a qual olhava fixamente. Após algum tempo ele se levantava e andava pela sala olhando para as pinturas na parede. Volta e meia erguia a lebre e lhe mostrava uma pintura, depois sussurava inaudivelmente em uma de suas orelhas. Por vezes parava e sentava-se  novamente, mas em momento algum se dirigia à plateia ou reconhecia sua presença. Isso prosseguia por três horas.
Amante dos animais, Beuys pensava que mesmo animais mortos têm "mais poderes de intuição que alguns seres humanos com sua teimosa racionalidade". A seu ver, a explicação de coisas a um animal morto "transmite uma sensação do sigilo do mundo".
Cut Piece (1964) de Yoko Ono ( n.1933), é uma obra alarmante e poderosa que demonstra, com consequências perturbadoras, como a plateia pode ser um elemento intrínseco numa obra de arte. Confere aqui: https://www.youtube.com/watch?v=lYJ3dPwa2tI

O vídeo expõe verdades sobre a natureza e as relações humanas, sobre agressores vítimas, sadismo e masoquismo, que poucas pinturas em que posso pensar são capazes de exprimir. 
Como em toda a arte performática, há uma narrativa: uma conversa provocada pela artista com a plateia, cujas ações são imprevisíveis e terão desfechos incognoscíveis. Se a arte existe para despertar nossos sentidos, para nos desafiar, nos ajudar a compreender, fazer-nos olhar novamente, então Cut Piece ("corte pedaços") de Ono é uma esplêndida obra de arte.

Sim, Yoko Ono é viúva de John Lennon.

Arte conceitual

Bruce Nauman (n.1941), em 1967, fez o vídeo Dança ou exercício sobre o perímetro de um quadrado ( Quadrilha), um filme de dez minutos de duração num loop contínuo. 
Nauman é o objeto que representa a humanidade: nunca aprendendo, nunca avançando; repetindo-se eternamente . O metrônomo marca a implacabilidade do tempo que dita nossas vidas. O ateliê é o espaço que o tempo e o objeto habitam. Nauman transformou sua ideia de filmar um movimento simples, corriqueiro -dar um passo para o lado-, numa intrigante obra de arte. A repetição é um componente importante - tem a ver com obsessões, com processo e, em última análise, com a condição humana. Confere o vídeo aqui:https://www.youtube.com/watch?v=IMSyhyvr0mw

O coletor ( 1990-92) é um filme de Francis Alÿs (n.1959) que o mostra arrastando um cachorro de brinquedo com rodinhas magnéticas por uma rua, coletando lâminas de metal, tachinhas e moedas enquanto avança. É uma obra de um arqueólogo em tempo real, estudando a cultura contemporânea mediante a coleta de artefatos e restos de nossas vidas movimentadas. Em Re-encenações (2000) ele entrou numa loja de armas na Cidade do México, comprou uma pistola Beretta 9 mm, carregou-a e saiu para um passeio pelas ruas segurando a arma na mão direita em plena vista do público. 
O objetivo da reencenação era realçar a natureza espúria dos documentários em geral, e daqueles que veiculam uma performance artística em particular. Alÿs está nos tornando cientes de que quando nos postamos na galeria assistindo as suas farsas surreais, ou assistimos a um documentário na televisão, há sempre um elemento de mediação, subjetividade e encenação envolvido.

Confere o vídeo de O coletor aqui:https://www.youtube.com/watch?v=x5qLHRdNSkk


Enquanto o artista radicado na Cidade do México faz filmes de reação de outras pessoas a seu trabalho, Richard Long faz fotografias de paisagens estéreis. Estas não têm o estilo de instantâneos jornalísticos, mas são eventos meticulosamente planejados e encenados. Quando tinha apenas 22 anos, Long fez uma obra chamada Uma linha feita ao caminhar ( 1967) quando voltava da escola de arte em Londres para casa. Ele abriu um caminho visível com suas pisadas, que em seguida fotografou.
Esse é um dos primeiros exemplos de land art, um ramo de arte conceitual que ganhou proeminência nos final dos anos 60 e início dos anos 70. 
Quebra-mar em espiral (1970), de Robert Smithson (1938-1973) - feita de rochas de basalto preto. A espiral no sentido anti-horário tem qualidades místicas e míticas; é antiga e moderna, abstrata e literal.

"O artista busca a ficção que a realidade irá mais cedo ou mais tarde imitar". 
Smithson morreu em 1973 num desastre de avião quando estava fotografando mais uma de suas land art.
A obra trata fundamentalmente da relação do homem com o seu meio ambiente e do modo como as estruturas à nossa volta afetam nosso comportamento. Ela mede 460 metros de comprimento por 4,6 metros de largura.